O que aconteceu entre Huawei e Google?
A guerra entre Huawei e Estados Unidos vem se desenvolvendo há vários anos, tudo começou quando os EUA emitiram uma ordem de busca e captura para a diretora financeira da Huawei. Os Estados Unidos acusam a Huawei de vender tecnologia para o Irã, um país sob sanções dos Estados Unidos por considerar que utilizam a tecnologia para fins terroristas.
Em 1º de dezembro de 2018, o Canadá deteve a diretora financeira da Huawei, Wanzhou Meng, filha do fundador da empresa, e anunciou sua extradição para os Estados Unidos, fato que ocorreu em 2 de abril de 2019.
Além de vender tecnologia para um país vetado, o governo dos EUA acusa a Huawei de colaborar com os serviços de inteligência da China e facilitar a espionagem através de sua tecnologia. Por esse motivo, foi proibido o uso de terminais móveis da Huawei por funcionários do governo e sua venda no país. Esse fato não foi um grande problema para a Huawei, já que os Estados Unidos da América não eram um grande mercado para a empresa; na verdade, era um mercado residual, sendo seus principais mercados a China e a Europa.
Em 24 de maio de 2019, o governo dos Estados Unidos anunciou que imporia sanções comerciais à China, considerando-a um inimigo, e o Google decidiu dar um passo e encerrar sua colaboração comercial com a Huawei.
O que implica o desacordo entre Google e Huawei?
O fim das relações comerciais entre Huawei e Google implica que, a partir de maio, os novos modelos de terminais fabricados pela empresa chinesa não terão permissão para trazer instalados de fábrica os aplicativos do Google, ou seja, não trarão de fábrica Google Play, Chrome, Gmail, Google Fotos, Google Maps, etc.
O acordo implica que os fabricantes se comprometem a trazer instalados de fábrica os aplicativos do Google e, em troca, eles recebem de forma prioritária as novas atualizações do sistema operacional Android e informações sobre o futuro do sistema operacional.
Significa que não poderei atualizar meu terminal Huawei?
Em uma única palavra: NÃO. Por dois motivos:
1- O acordo deve ser mantido para todos os modelos lançados antes de 24 de maio. Isso significa que todos os usuários de smartphones e tablets Huawei continuarão recebendo as atualizações tanto de segurança quanto as atualizações de funcionalidades como até agora. Infelizmente, nenhum fabricante continua lançando atualizações para seus terminais após 2 anos de seu lançamento, nem mesmo os terminais vendidos pelo Google recebem essas atualizações após 2 anos, de modo que os proprietários de celulares Huawei não notarão a diferença.
2- O sistema operacional Android é de código aberto e existe um projeto chamado Android Open Source Project que se encarrega de sua manutenção e distribuição, conforme indicado na página web do AOSP: “Como projeto de código aberto, o objetivo do Android é evitar qualquer ponto central de falha em que um jogador da indústria possa restringir ou controlar as inovações de qualquer outro jogador.”.
A Huawei (assim como muitos outros fabricantes fazem atualmente) pode utilizar esta versão do Android totalmente livre para continuar incluindo em seus dispositivos o sistema operacional sem ter que pedir permissão ao Google nem ao governo de nenhum país.
Existem muitos fabricantes chineses ou indianos que não têm um acordo com o Google, já que não cumprem com os requisitos mínimos que a empresa impõe, por isso incluem esta versão do sistema operacional Android. É verdade que as inovações e patches de segurança chegam mais tarde ao AOSP, mas em qualquer caso chegam, e a Huawei pode utilizar este código fonte livre para instalar em seus novos modelos e continuar atualizando esses novos modelos sem restrições.
Há anos a Huawei instala em seus dispositivos móveis outro aplicativo que oferece acesso direto a um portal de apps em Apk, que é o Apk Pure. Existem outras páginas web de onde baixar arquivos .apk como: Android Police e Aptoide. Uma camada de personalização do sistema operacional Android chamada EMUI e uma loja de aplicativos paralela ao Google Play, da qual qualquer usuário pode baixar os mesmos apps sem passar pela loja de aplicativos do Google, de modo que têm experiência e recursos para continuar lançando modelos com o sistema operacional Android e que estes possam continuar utilizando os mesmos apps que os demais terminais Android.
Qual é o futuro da Huawei?
A Huawei, assim como a Samsung ou a Xiaomi, vem desenvolvendo há anos um sistema operacional alternativo ao Android para quando chegasse uma situação como a que finalmente aconteceu.
A Samsung vem desenvolvendo há anos o Tizen, seu sistema operacional próprio baseado em Linux (assim como o Android) e compatível com os apps do Android. O Tizen é a continuação do sistema operacional Bada, também desenvolvido pela Samsung, que foi utilizado em seus smartphones antes da popularização do Android.
O Tizen foi incorporado em relógios inteligentes e televisores SmartTV, mas ainda não se atreveu a incorporá-lo em smartphones, possivelmente devido a algum acordo com o Google ou devido ao risco que representa se independizar de uma marca tão conhecida como o Android.
Por sua vez, a Huawei desenvolve o Hongmeng OS e anunciou que estará disponível em seus dispositivos a partir do outono de 2019 e que será compatível com todos os aplicativos do Android.
Após este anúncio, o Google declarou que postergará a anulação do acordo com a Huawei também para outubro de 2019.
A Xiaomi, por sua vez, dispõe do MIUI, uma camada de personalização assim como a Huawei dispõe do EMUI. Ainda não anunciou que tem um sistema operacional próprio, mas é evidente que internamente estão trabalhando nisso, prevendo que lhes ocorra uma situação semelhante à da Huawei, por ser também uma empresa chinesa e também devido ao fato de que a Xiaomi comentou em várias ocasiões que vendem seus aparelhos a preço de custo com a intenção de vender posteriormente serviços, de modo que parece que querem imitar o modelo de negócio do Google ou da Apple, vendendo serviços por assinatura como música, séries, filmes ou outro tipo de serviços.
Posso baixar aplicativos Android sem o Google Play?
Sim, existem várias alternativas para poder dispor dos mesmos aplicativos Android sem passar pela loja do Google e com total segurança.
Utilizando o Uptodown, você pode tanto instalar aplicativos quanto mantê-los atualizados com a mesma confiabilidade e segurança que fazendo isso pelo Google Play.
Outro aplicativo que oferece acesso direto a um portal de apps em Apk é o Apk Pure. Existem outras páginas web de onde baixar arquivos .apk como: Android Police e Aptoide.
Para instalar esses aplicativos, é necessário habilitar a instalação de aplicativos de “Fontes desconhecidas” ou o modo desenvolvedor ou “modo engenheiro”. Para isso, acesse as configurações do seu dispositivo Android, vá para a seção Segurança e habilite a caixa marcada como «Fontes desconhecidas». Cada vez que você instalar um apk, o sistema pedirá confirmação para realizar essa ação.
O que o Google ganha com essa ação?
Parece que não ganha nada, apenas aplica as sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos e pode perder muito, já que, segundo dados da consultoria IDC, a Huawei tem uma participação de mercado em todo o mundo de 19%, à frente da Apple, que tem uma participação de 11,7%, e apenas atrás da Samsung, com 23,1%.
O Google se arrisca a que 19% ou mais do mercado atual de smartphones não tragam pré-instalados de fábrica seus aplicativos como Gmail, Maps, Chrome e o próprio buscador, e levando em conta que o Google baseia seu negócio principalmente em publicidade e obtém grande quantidade de lucros, já que usa a informação que obtém do uso desses apps e serviços para oferecer uma publicidade mais relevante e personalizada.
Se finalmente não chegarem a um acordo e a Huawei tiver sucesso desvinculando-se do Google, é possível que outras empresas como Xiaomi ou Samsung façam o mesmo, o que seria um grande prejuízo para os lucros do Google e um grande fracasso, considerando o grande investimento que representou para o Google o desenvolvimento do sistema operacional Android.
O que faço com meu smartphone ou tablet Huawei?
Você pode continuar usando-o normalmente, não notará nenhuma diferença. O mais provável é que a Huawei e o Google cheguem a um acordo antes que seu dispositivo quebre ou você decida trocá-lo, e no caso de não chegarem a um acordo, isso afetará apenas os futuros modelos, não os atuais.
Recomendamos que você não tente vendê-lo, pois perderá muito dinheiro, ou jogá-lo no lixo, pense no planeta, seu dispositivo continua sendo igualmente útil, a menos que tenha algum defeito grave, a bateria não funcione como no primeiro dia ou você decida trocá-lo para estar atualizado.
Atualização 27/09/2019
O Ministério da Defesa da Espanha ordenou a desconexão de todos os dispositivos da marca Huawei, impedindo a conexão ou acesso aos seus sistemas de informação.
Isso implica que os trabalhadores do ministério não podem usar celulares, tablets, relógios inteligentes nem computadores pessoais da marca Huawei para acessar a rede do Ministério da Defesa devido às acusações de espionagem contra a marca chinesa.
Esse veto não proíbe seus funcionários de usarem os dispositivos dessa marca, apenas que não poderão se conectar à rede do Ministério.
Atualização 02/12/2024
Após vários anos difíceis, a Huawei conseguiu se recuperar das sanções impostas pelos Estados Unidos. Em agosto de 2024, a empresa superou a Apple em vendas de smartphones na China pela primeira vez em quatro anos. Para o terceiro trimestre de 2024, a Huawei alcançou uma participação de mercado de 16,4% no país, consolidando-se como o segundo maior fabricante de smartphones na China.
Por outro lado, o Pentágono dos Estados Unidos reconheceu que não pode cumprir totalmente com a lei que proíbe contratar empresas que utilizem equipamentos da Huawei, devido à ampla presença da tecnologia da empresa chinesa nas redes de telecomunicações globais.
Apesar dos esforços dos Estados Unidos para frear seu avanço, a Huawei continua sendo um jogador chave no mercado global de tecnologia e telecomunicações. Recentemente, lançou a versão beta de seu sistema operacional HarmonyOS Next, com o qual rompe completamente sua dependência do Android. Esse desenvolvimento conseguiu captar o interesse dos desenvolvedores, um fator crucial para o sucesso de qualquer sistema operacional.
Diferente das versões anteriores do HarmonyOS, que eram modificações do Android, esta nova versão foi criada do zero. Segundo Richard Yu, diretor executivo da Huawei, já existem mais de 15.000 aplicativos compatíveis com o sistema, um número que se espera que cresça nos próximos meses. É importante destacar que os aplicativos desenvolvidos para Android não são compatíveis com o HarmonyOS Next, de modo que a Huawei precisa persuadir os desenvolvedores a criarem versões específicas para sua plataforma. No entanto, isso não parece ser um desafio insuperável graças ao crescente domínio da Huawei no mercado chinês e a incentivos atraentes, como a possibilidade de reduzir ou eliminar as comissões em sua loja de aplicativos.
O objetivo da Huawei é que este novo sistema operacional se estenda a todo o seu ecossistema de dispositivos, replicando a estratégia da Apple com o iOS.